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Ministério da Cultura e Instituto Cultural Vale apresentam

Meu mundo caiu

Apresentação

A Ortobom, líder do mercado de colchões no país e com mais de 50 anos de história, apoia o projeto Arte nas Estações por meio da mostra Meu mundo caiu. Presente em todos os estados brasileiros, é a maior fabricante de colchões da América Latina.

A empresa permanece com sua missão de proporcionar ótimas noites de sono aos brasileiros, levando a todos conforto, bem-estar e qualidade de vida, por meio de produtos de qualidade e do apoio a projetos culturais relevantes e transformadores.

Ortobom

MEU MUNDO CAIU

As artes visuais, em especial as expressões populares, são um espelho da cultura de um povo. Dentro desta ótica, exibir as obras de artistas de outros países do Museu Internacional de Arte Naïf é investir em história e memória para além de fronteiras geográficas. É manter viva esta coleção tão importante, que durante tantos anos foi exibida em sua sede, que funcionou entre 1995 e 2016, em um casarão também no Cosme Velho.

É de extrema importância a continuidade desta coleção, por meio da dedicação de Jacqueline Finkelstein, gestora do acervo, e do projeto Arte nas Estações, que promoveu nove mostras nas cidades mineiras de Ouro Preto, Conselheiro Lafaiete e Congonhas e agora apresenta Meu mundo caiu no Rio de Janeiro.

As manifestações poéticas aqui reunidas, de culturas tão diversas, só reforçam a potência destes artistas autodidatas. E o projeto Arte nas Estações segue com seu objetivo de garantir a visibilidade da coleção de tamanha magnitude, por meio da itinerância por diferentes lugares do país.

Fabio Szwarcwald
Diretor-executivo

Z42 Arte
Rua Filinto de Almeida, 42,
Cosme Velho, Rio de Janeiro RJ

ArtRio, 11 — 17 SET:
Segunda a sábado, 11h-17h

18 SET — 11 NOV:
Sábado e domingo, 11h - 17h
Segunda a sexta, somente com agendamento prévio por email:
contato@expomeumundocaiu.com.br

Meu mundo caiu, por Ulisses Carrilho

As sirenes soam, os alertas chegam por toda a parte: “Nosso tempo está desnorteado. Maldita a sina, que me fez nascer um dia pra consertá-lo!”. Do sofrimento opressivo à raiva fervorosa, no clássico da tragédia inglesa, foi Hamlet — até mesmo ele, um príncipe — quem despontou: “Há algo de podre no reino da Dinamarca”. Da garota de Napalm às torturas na prisão de Abu Ghraib, no Iraque; da prisão na baía cubana de Guantánamo ao genocídio em Ruanda; da cobertura midiática ao 11 de Setembro de 2001, em Nova York, ao silêncio sobre o 11 de Setembro de 1973, que marca a realidade antidemocrática latino-americana com o assassinato de Salvador Allende, em Santiago, no Chile; do voyeurismo sádico de nossos reality shows à perversão de nossos videogames, em que tiros são alvejados em primeira pessoa, organizando os jogadores em times de terroristas batalhando entre si; da facada em Salman Rushdie ao assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes, sobram imagens, notícias, fatos, justificativas, razões, motivos e causas para deformar o mundo. Quanto pode uma imagem?

Sorte a nossa se esta fosse a única das perguntas a ser respondida: o que é uma vida? Quais são aqueles tratados como números, dados, meros representantes, sem direito à biografia? Quais vidas lamentamos perder? Reconhecidas com atraso, as normas precárias que nos foram alertadas pelos estudos feministas, contracoloniais e cuir são fundamentais para reconhecermos — sobretudo, responsabilizar-nos — da falência dos modelos conhecidos, absolutos e assertivos dessa forma de mundo. Quais são os sujeitos autorizados à livre criação, à poesia, à fruição experimental das imagens e ideias? A quais foram oportunizadas as técnicas e conceitos da arte? Frente aos pintores autodidatas, resta uma pergunta mais específica, que ressoa desde 2019, na primeira exposição que realizei com pintores autodidatas: a quais pessoas foi concedido o direito de representar, imaginar e interpretar o mundo à sua maneira — também por meio de cores, pincéis, suportes, tintas, fatura, composição?

Muitas são as vozes para aqueles dispostos a ouvi-las. Gayatri Spivak, indiana, perguntou-nos: “Pode o subalterno falar?”. Donna Haraway, teórica feminista estadunidense, convoca-nos a perceber como já somos ciborgues, como urge a solidariedade interespécies — nossa única alternativa, nossa única possibilidade. Enquanto o líder político e filósofo Ailton Krenak convida-nos a “adiar o fim do mundo”, somos alertados de sua queda, da “queda do céu”, por Davi Kopenawa. Judith Butler descortinou que a violência estatal é justificada, normalizada, formalizada por meio de narrativas que alegam defender a segurança nacional, a ordem social ou a preservação da cultura. Stuart Hall, sociólogo britânico-jamaicano, desvelou que “cultura” se trata de um processo nada fixo, contínuo e em constante estado de hibridização e mudança. Michel Foucault alertou-nos que os museus, como todas as instituições que disciplinam a docilidade de nossos corpos, são também instrumentos de classificação, exclusão e separação. Sueli Carneiro enfatiza a importância de reconhecer a alteridade, ou seja, a diferença e a diversidade entre os indivíduos e grupos, sinalizando que a desconstrução do preconceito passa incontrolavelmente por uma educação antirracista. Lélia Gonzalez denunciou o racismo e o sexismo na cultura brasileira, apontou que a língua experimentada em nossos corpos é o “pretoguês”. bell hooks relembrou-nos que, em meio a tanto ódio e violência, urge insistirmos em ideias outrora chamadas platônicas — ideias simples e fundamentais como o amor. Audre Lorde preveniu-nos sobre os usos do erótico, sobre os usos da raiva. Angela Davis demonstrou que não haverá saída social sem a revisão do complexo industrial-prisional, sem solidariedade internacional.

O “estado de exceção” em que vivemos é, na verdade, a regra geral, é seu próprio mote, relembra-nos Walter Benjamin com atenção para a tradição dos oprimidos: “Precisamos construir um conceito de história que corresponda a essa verdade”. Filósofo alemão, vítima do nazismo de seu tempo, Benjamin formulou: “Nossa luta é também pelas ‘coisas brutas e materiais’, sem as quais não existem as ‘refinadas e espirituais’”. Alerta-nos ainda que são elas que se manifestam nessa luta “sob a forma da confiança, da coragem, do humor, da astúcia, da firmeza, e agem de longe, do fundo dos tempos. Elas questionarão sempre cada vitória dos dominadores”. Foi tal energia insubordinada, de um mundo caído, desorganizado, partido em frangalhos, que, num tempo desnorteado, voltamos nossos corpos para aquilo que é criado no fundo dos tempos. Enquanto eles pregam o respeito à disciplina, pretendemos aqui gozar do prazer de borrar as fronteiras, mesclar-se, fundir-se em direção a um corpo coletivo, um corpo fora da norma, uma indisciplina dos que não tiveram escola. Que tenhamos olhos para ver a beleza produzida por aqueles que, reféns e protagonistas de suas histórias, insubordinadamente, formaram-se longe dos “grandes mestres” — sem deixar de aprender, no entanto.

Aversão, hostilidade ou ódio contra pessoas estrangeiras ou vistas como forasteiras são chamados de xenofobia. Junto ao racismo, às guerras étnicas, ao preconceito, à segregação e à discriminação, com base nos conceitos de raça, construídos pelas disciplinas modernas, mostram-se fenômenos amplamente disseminados no mundo e que implicam altos graus de violência — física e simbólica. Como pano de fundo desta batalha, perpetuam-se estigmas: do francês, “ingênuo”, o termo naïf aqui, mais uma vez, apresenta seus limites. Como podem as indignações, as verdades particulares e as perspectivas subjetivas de um indivíduo serem pretensamente ingênuas? Tal dúvida comprova a sobrevida desta coleção, de seu recorte, apesar do fechamento do Mian em 2016. É urgente que possamos encarar nossa ignorância, desmontar os parâmetros moldados por uma alavancada por uma ideia de progresso que perpetua a manutenção das formas — que, ao fim e ao cabo, convidam-nos ao prazeroso processo de apaixonamento pelo outro, pela alteridade, pelo reconhecimento do valor que as diferenças têm.

Meu mundo caiu
E me fez ficar assim
Você conseguiu
E agora diz que tem pena de mim
Maysa, “Meu mundo caiu”

But I’ll be there for you-ou-ou
As the world falls down
Falling, as the world falls down
Falling, falling in love
David Bowie, “As the World Falls Down”

Lista de países

Afeganistão
África do Sul
Austrália
Bangladesh
Camboja
Chile
China
Chipre
Colômbia
Congo
Cuba
Egito
Equador
Eslováquia
Espanha
Estados Unidos
França
Guatemala
Geórgia
Haiti
Holanda
Ilhas Maldivas
Índia
Inglaterra
Irã
Israel
Itália
México
Nicarágua
Panamá
Paraguai
Peru
Polônia
Portugal
Quênia
Sri Lanka
Tanzânia
Vietnã

Ficha técnica

DIREÇÃO EXECUTIVA

Fabio Szwarcwald

REALIZAÇÃO

A Ponte (Fabio Szwarcwald)

CURADORIA

Ulisses Carrilho

COORDENAÇÃO

Ikigai Produções (Ana Carolina Iglesias)

PRODUÇÃO EXECUTIVA

RKF Consultoria (Patricia e Priscila Moreno)

PRODUÇÃO

Faceta Produções (Izabel Campello e Caio Costa)

COORDENAÇÃO DE MONTAGEM

Adriana Salomão

IDENTIDADE VISUAL E PROJETO GRÁFICO

Rita Sepulveda
Pedro Brucz

INTERVENÇÃO ARTISTICA PAREDES

Rafael Alonso
Rafael Plaisant (Assistente)
Cícero Sancho (Assistente)

ILUMINAÇÃO

Julio Katona

MUSEOLOGIA

Estúdio Engenho (Euripedes Junior, Cândida Bougleux e Mariana Lameu)

MONTAGEM

Kbedim Montagem

FOTOGRAFIA DAS OBRAS

Pedro Bomfim Fontoura

SINALIZAÇÃO

Ginga Design

TRANSPORTE

Alves Tegam

SEGURO

Affinitte

DESENVOLVIMENTO DO SITE

Mário Neto

COMUNICAÇÃO

OZ Comunicação (Domi Valansi)

ASSESSORIA DE IMPRENSA

Mônica Villela

AGRADECIMENTOS

Museu Internacional de Arte Naïf do Brasil
Jacqueline Finkelstein